Cancro: Guia prático para descobrir os genes da doença

23-01-2014 14:39

Os testes genéticos indicam se a probabilidade é elevada ou mais baixa. O caso de Angelina Jolie chamou a atenção para eles. Nove perguntas-chave e um guia prático essencial

O cancro também pode ser uma herança de família, tal como a cor dos olhos ou a altura. Cerca de 10% dos tumores têm origem hereditária e já há testes genéticos que permitem identificar alguns dos genes de risco. Mas o processo nem sempre dá respostas definitivas. Estas são algumas das questões mais frequentes nos consultórios de genética.



O que é um cancro hereditário?

O cancro surge quando ocorrem mutações que alteram os genes das células fazendo com que estas se multipliquem descontroladamente. Na maior parte dos casos, essas mutações ocorrem de forma espontânea ao longo da vida, provocadas por vários factores de risco como exposição a produtos tóxicos, vírus e radiações. Mas alguns casos de cancro serão hereditários, ou seja, a pessoa já herda dos pais um ou mais genes com mutações que provocam o cancro.

 

Quais os cancros hereditários mais comuns?

Os estudos indicam que cerca de 10% dos cancros actualmente detectados têm origem hereditária. Os restantes podem surgir espontaneamente sem qualquer relação com os antecedentes familiares dos doentes. O cancro da mama, dos ovários e do cólon são os mais frequentes, e já há testes genéticos específicos para detectar a probabilidade de uma pessoa vir a ter a doença.

 

Os testes genéticos dizem se se vai ter cancro no futuro?

Os exames genéticos actuais permitem detectar com grande probabilidade se algumas pessoas terão certos tipos de cancro. É o caso dos portadores dos genes conhecidos por BRCA1 e BRCA2, que estão implicados no aparecimento de cancro da mama e dos ovários. Uma pessoa com estes genes tem mais de 80% de possibilidade de vir a ter a doença. Os estudos indicam que a presença destes dois genes também aumenta o risco de outras formas de cancro, como o da próstata e do pâncreas.

 

Quem deve fazer testes genéticos para cancros hereditários?

As pessoas cujos familiares de primeiro grau (pais, filhos ou irmãos) foram afectados por alguns tipos de cancro devem estar mais atentas. No caso do cancro da mama, os sinais de alerta são maiores se os tumores forem diagnosticados antes dos 30 anos de idade, se houver casos de homens na família com cancro de mama ou de mulheres que tenham tido cancro em ambas as mamas. Outro exemplo é o das famílias com historial de cancro do cólon em pessoas com menos de 50 anos.

 

Qual a vantagem de fazer o teste genético?

Descobrir que se tem um gene ligado ao cancro permite apertar a vigilância e fazer exames médicos ou rastreios frequentes, que podem ajudar a detectar o problema na fase inicial, o que normalmente torna o tratamento mais eficaz. Os portadores dos genes BRCA1 e BRCA2 devem fazer rastreios mais frequentes e exames médicos mais detalhados. No caso das mulheres, aconselha-se a fazerem ressonâncias magnéticas além das tradicionais mamografias e ecografias.

 

A cirurgia elimina o risco do cancro?

Em alguns casos, a cirurgia para remover certos órgãos, mesmo quando o cancro ainda não se manifestou, diminui muito o risco de aparecimento da doença. A remoção cirúrgica preventiva da mama (que foi a opção da actriz Angelina Jolie) faz diminuir 97% o risco de cancro. Retirar os ovários representa uma diminuição do risco de 99%.

 

Um resultado negativo no teste genético significa que não se vai ter cancro?

Os testes genéticos podem ter alguma margem de erro, geralmente inferior a 1%. A presença de uma alteração genética não indica com certeza absoluta que a pessoa irá desenvolver o cancro, mas indica que a probabilidade de o desenvolver será superior em relação à média da população. Mas não haver alteração genética não significa que nunca se vá desenvolver cancro, apenas que o risco é semelhante ao de qualquer pessoa.

 

Os genes de cancro são transmitidos aos filhos?

Os resultados do teste genético dão informação mais precisa sobre o risco para filhos. Se o resultado de um teste mostra que determinada pessoa não herdou um gene perigoso (por exemplo, o BRCA1 ou 2), isso significa que essa pessoa não tem risco aumentado de desenvolver esse cancro e, por isso, os seus filhos não irão herdar esse risco genético.

Se o resultado do teste mostra que essa pessoa é portadora do gene alterado, os seus filhos têm uma probabilidade de 50% de também herdar o gene e ficar em risco aumentado de desenvolver cancro ao longo da vida. Discutir uma doença genética e os resultados de um teste com crianças e adolescentes pode ser muito delicado. Por isso, normalmente todo o processo é feito com acompanhamento psicológico.

 

Os resultados são confidenciais?

O acesso aos resultados dos testes genéticos é confidencial. Os médicos não estão autorizados a dizer a ninguém quem fez um teste genético nem a revelar os resultados do teste sem permissão. Na actual legislação em Portugal, as companhias de seguros não podem pedir resultados de testes genéticos que já tenham sido realizados ou venham a ser, não podem fazer testes genéticos sem autorização, nem podem pedir a história familiar aos segurados. Os médicos-geneticistas podem dar conselhos e é possível consultar a legislação nacional.

 

 

O que deve saber se vai fazer os testes genéticos

1. Onde? 
No IPO há consultas de risco familiar para os casos de cancros hereditários e indicam que testes genéticos se devem fazer.

2. Quanto? 
Os testes custam em média 500 a 1.000 euros nos laboratórios particulares e são comparticipados no sistema público.

3. Idade?
As pessoas com familiares que tiveram cancro antes dos 30 anos devem fazer testes genéticos.

4. Como?
Normalmente, os testes genéticos são feitos a partir de amostras de sangue.

5. Tempo?
Este é um processo longo. Em média, espera-se três a seis meses pelos resultados do laboratório.