Diabetes em cães e gatos

24-01-2020 19:45

É menos comum do que nos seres humanos, mas também afecta cães e gatos: trata-se da diabetes e
entre os factores que a denunciam nestes animais está um aumento do apetite acompanhado de uma contraditória perda de peso. O diagnóstico precoce contribui para que tenham uma boa expectativa de vida.

Tal como acontece entre os seres humanos, a diabetes nos animais de estimação está associada a um aumento da esperança de vida. Actualmente, graças aos cuidados proporcionados pelos donos, tanto os cães como os gatos têm uma existência mais longa, o que os torna mais vulneráveis a algumas doenças.
Na verdade, embora se possa declararem qualquer idade, a diabetes atinge principalmente animais idosos. E também à semelhança do que ocorre entre os seres humanos, é cada vez mais comum em animais sedentários e obesos. Afinal, o estilo de vida dos cães e gatos domésticos tende a reflectir o estilo de vida dos donos. No que respeita a estes animais de pequeno porte considera-se dois tipos de diabetes mellitus e insipidus , o primeiro mais comum e o segundo de manifestação esporádica. Vejamos cada um deles. Na origem da diabetes mellitus está a incapacidade do organismo em utilizar a glucose por via de uma deficiência em insulina, a hormona produzida pelo pâncreas e cuja função é permitir a entrada da glucose nas células onde é transformada em energia. Ora, na impossibilidade de ser utilizada pelas células, a glucose começa a acumular-se no sangue. Ao mesmo tempo, as células, privadas da sua fonte habitual de energia, são forçadas a procurar outro combustível, encontrando-o na gordura e nas proteínas do corpo. São estes dois fenómenos que explicam duas das principais manifestações da diabetes nos animais: por um lado, uma ingestão de água superior ao habitual e uma maior produção de urina e, por outro, o emagrecimento sem causa aparente apesar de um apetite acrescido. Na prática, o animal bebe mais água e urina mais em reacção a uma tentativa do organismo de diluir e de expulsar a glucose concentrada no sangue. E perde peso porque as células usam os nutrientes fornecidos pela alimentação como energia para sobreviverem, amadurecerem e se multiplicarem. São estes os sintomas que devem motivar uma consulta veterinária, no sentido de um diagnóstico o mais precoce possível.

Diferentes nas causas e no tratamento

Quanto às causas, existem algumas diferenças entre cães e gatos. Nos cães, os estudos mais recentes sobre a doença apontam para uma destruição auto-imune das ilhotas de Langerhans (agrupamentos de células pancreáticas responsáveis pela produção de insulina), embora possam existir outros fenómenos subjacentes, como hiperadrenocorticismo, obesidade, infecções crónicas (sendo as mais comuns as urinárias subdiagnosticadas e periodontites crónicas) e, no caso específico das cadelas, o cio. Refira-se, a propósito, a vantagem de proceder à castração das cadelas a que seja diagnosticada diabetes, pois durante o cio são libertadas hormonas que impedem a acção da insulina, dificultando o tratamento e contribuindo para o agravamento da doença. É que o tratamento da diabetes mellitus nos cães implica a administração de insulina para toda a vida. O mesmo não acontece com os gatos, em que este tipo de diabetes é, quase sempre, temporário e, com frequência, associado a pancreatites, obesidade e infecções crónicas em qualquer parte do organismo. Os gatos recuperam facilmente da doença, carecendo de insulina apenas na fase inicial, após o que podem ser tratados com recurso a antidiabéticos orais.

Dieta e exercício físico complementam o plano de controlo da doença. Nuns e noutros, o diagnóstico envolve a demonstração de hiperglicemia (> 250 mg/dl) e glicosúria persistentes, a par dos sintomas clínicos já descritos. Nem todas as raças são afecta das da mesma forma: entre as caninas, existe uma maior predisposição nos poodle, cocker, beagle, pinscher, rotweiller e schnauzers, enquanto entre os felinos a doença parece prevalecer entre os siameses. Mais rara é a diabetes insipidus , de que existem dois tipos: na origem do tipo I está uma diminuição da produção da hormona vasopressina pela glândula pituitária, enquanto no tipo II se verifica uma disfunção ao nível dos rins que impede a acção da vasopressina. Os animais com esta forma esporádica de diabetes apresentam alguns sintomas comuns aos que sofrem de diabetes mellitus , nomeadamente um maior consumo de água e uma maior produção de urina, o que se deve ao facto de aquela hormona ser responsável pela reabsorção de líquidos antes da formação da urina.

Os animais que produzem vasopressina em quantidade insuficiente ou que apresentam a deficiência renal que inviabiliza a sua acção acabam por perder demasiada água através da urina (poliúria) e por, em compensação, ingerir uma maior quantidade de água do que o habitual (polidipsia). Esta é uma doença de difícil diagnóstico mas de tratamento fácil por quanto basta aplicar algumas gotas com vasopressina na conjuntiva do cão ou do gato afectado. A diabetes é, como já se referiu, uma doença cuja prevalência está a aumentar entre cães e gatos. No entanto, há o risco de, por ser ainda considerada uma doença do ser humano, os seus sintomas serem desvalorizados ou mal interpretados pelos donos. A farmácia, pela sua proximidade com as populações, assume aqui um papel importante na informação sobre este problema de saúde animal, esclarecendo os donos e referenciando para o médico veterinário. Afinal, quando diagnosticados a tempo, cães e gatos diabéticos podem viver tanto como os saudáveis