Saúde oral na infância, dentes para a vida

24-01-2020 19:59

Os dentes decíduos, ou dentes de leite, começam a sua formação por volta da quinta ‒ sexta semana de
vida intra-uterina e, a partir do sexto mês de vida, tem início o processo de erupção dentária. A dentição decídua tem, regra geral, 20 dentes. Entre os 6 e os 14 meses nascem, habitualmente, os primeiros dentes, os incisivos médios inferiores. Seguem-se os quatro superiores e os dois laterais inferiores.
Entre os 12 e os 18 meses, em regra, nascem os primeiros molares, ficando entre os incisivos e estes dentes, um espaço vazio reservado aos caninos.
Entre os 18 e os 24 meses nascem os caninos.
Entre os 24 e os 30 meses nascem os segundos molares. E completa-se assim a dentição “de leite”.
Apesar de ser esta a considerada ordem normal, é possível que seja completamente alterada. A criança pode nascer já com um dente visível na cavidade oral ou, em oposição, o primeiro dente nascer só depois dos 12 meses e, em vez da erupção espaçada, verifica-se o surgimento de vários dentes em simultâneo.
A acompanhar todo este processo, está vulgarmente presente um conjunto de sinais e sintomas típicos,
como:

• Um ligeiro inchaço do tecido gengival, por vezes acompanhado por uma coloração azulada

• Rubor ou erupção da face, próximo da zona de erupção do dente

• Aumento da produção de saliva resultando no típico babar contínuo das crianças

• Irritabilidade

Apesar de associados, febre, diarreia ou congestão nasal não são, necessariamente, sintomas resultantes do processo da dentição.


A mudança dos dentes

A mudança dos dentes dá-se normalmente em duas fases: entre os 6-8 anos e entre os 10-12 anos.
Pelos 6 anos aparece o primeiro molar permanente que erupciona atrás do 2o molar decíduo. Por não
implicar a queda de nenhum dente temporário, a presença do 1o dente permanente pode passar despercebida ou mesmo confundir os pais que pensam que será substituído posteriormente.
 

Da dentição decídua aos dentes para a vida

Os cuidados de Saúde Oral infantil devem iniciar-se no período pré-natal. Os futuros pais devem ser sensibilizados para a importância de uma boa Saúde Oral no contexto da saúde global. No período de gestação a mulher encontra-se mais receptiva à aquisição de novos conhecimentos e a mudar hábitos que influenciem a saúde do bebé. Tal torna este período numa oportunidade única para intervir, educando para a saúde. A boa saúde oral da mãe favorece a boa saúde oral do filho. A futura mãe deve fazer todos os tratamentos dentários necessários a uma boa saúde oral. Mesmo já estando grávida e tendo dentes cariados ou doença periodontal, não deve deixar de proceder ao necessário tratamento. Ao longo da gravidez, a saúde oral da mãe deve ser rigorosamente vigiada, especialmente durante o 3o trimestre, fase de maturação do esmalte da dentição decídua.

O Streptococcus mutans é o principal responsável pelos processos cariogénicos. É transmitido através da saliva por intermédio de beijos, mãos ou pele contaminadas, ou de alimentos. A primeira colonização ocorre geralmente entre os 6 e os 18 meses de vida, por vezes antes da erupção
dos primeiros dentes. Quanto mais cedo se der a colonização, mais rápida é a progressão da doença e maior a destruição do tecido dentário.

A redução dos níveis de Streptococcus mutans da mãe pode ser conseguida através da prevenção e tratamento de cáries e de uma correcta instrução e motivação para a saúde oral, podendo durante a gravidez obter-se um bom controlo da flora oral através da utilização de clorexidina (elixir, dentífricos ou gel) e/ou xilitol (pastilhas elásticas), e da prática de uma correcta higiene oral.

A cárie dentária nas crianças

A cárie dentária é uma doença infecciosa, de origem microbiana, localizada nos tecidos duros dentários. Inicia-se por uma desmineralização do esmalte, provocada por ácidos orgânicos produzidos por bactérias orais específicas que metabolizam os hidratos de carbono da dieta. Os micro-organismos com capacidade cariogénica não determinam, por si só, o desenvolvimento de cárie dentária, sendo necessário o substrato adequado (hidratos de carbono como a sacarose, a glucose e a frutose) e condições fisiológicas do hospedeiro que permitam a sua colonização e sobrevivência. 1 No desenvolvimento da cárie, o mais importante não é a quantidade absoluta de açúcares ingeridos mas sim a consistência dos açúcares e a frequência do seu consumo. 3 Logo após a erupção, o esmalte apresenta superfícies que se encontram ainda nos estádios finais de calcificação, mineralização e incorporação de flúor. Esta hipomaturação temporária do esmalte dentário torna o dente mais susceptível à cárie imediatamente após a erupção.

Complicações

As principais complicações da cárie dentária nas crianças passam pelas infecções dentárias. As infecções dentárias originam inicialmente dores, quer dento-bucais, quer ao nível da faringe e da cabeça. São infecções localizadas que conduzem a bacteriémia, podendo aumentar a propensão para infecções respiratórias e digestivas. O envolvimento da dentição decídua nestas infecções conduz à perda prematura de dentes, com consequências que passam por maloclusão, apinhamento dentário, patologia oclusal e alterações da erupção dentária e do desenvolvimento e crescimento dos maxilares.
A perda precoce de dentes temporários, associada a dores, dificulta o normal processo de alimentação,
conduzindo a perda de apetite e, eventualmente, a malnutrição, o que pode levar a alterações do desenvolvimento físico e intelectual e a distúrbios do sono. Durante toda a vida do dente decíduo, o gérmen do dente permanente encontra-se em íntimo contacto, pelo que os processos que são um risco para os dentes decíduos, como cárie e traumatismos, também o são para os seus sucessores dentes permanentes.
Assim, facilmente se compreende que as crianças com cáries apresentam em adulto uma maior propensão para o desenvolvimento de cáries e de patologias do desenvolvimento dentário

Prevenção

A prevenção da cárie dentária deve iniciar-se logo no período pré-natal, dando destaque à saude oral da mãe (higiene, prevenção, diagnóstico e tratamento de patologia oral), mas também reforçando a importância da adopção de bons hábitos de dieta/nutrição, da amamentação e da introdução progressiva de alimentos
mais consistentes que determinam o padrão de mastigação do bebé. Fundamental é também a não introdução de qualquer tipo de adoçante na chupeta ou biberão e o início precoce da higienização da cavidade oral do recém-nascido.

O bebé

Iniciar a higiene oral dos bebés imediatamente após o nascimento faz sentido uma vez que a mucosa oral
pode ser colonizada por S. mutans desde os primeiros dias de vida.
Por outro lado a limpeza da boca com uma gaze ou fralda húmida, de forma regular, permite que o bebé se acostume a esta rotina de limpeza. Após a erupção do primeiro dente, a higienização deve começar a ser
feita pelos pais, duas vezes por dia, utilizando uma gaze, uma dedeira ou uma escova macia, com um dentífrico fluoretado com 1000-1500 ppm (mg/l) de fluoreto (concentrações presentes na maioria das pastas dentífricas), sendo uma das vezes, obrigatoriamente, após a última refeição. O uso da escova dentária não deve ser adiado para mais tarde do que a erupção do primeiro molar decíduo,
por volta dos 16 meses. Existe actualmente no mercado uma grande variedade de dispositivos para a higiene oral do bebé (ex. escovas, dedeiras). Independentemente do instrumento utilizado, a educação quanto à importância deste hábito e a motivação dos pais e responsáveis para o pôr em prática o mais precocemente possível é imprescindível.